Por isso mesmo, a imprensa atemorizou os “donos do poder”, tanto civil quanto eclesiástico, motivando o advento do regime da censura prévia que durou quase 3 séculos, inibiu o jornalismo e conseqüentemente retardou a participação política.
A batalha pela liberdade de imprensa só alcançaria repercussão em meados do século XVII, quando Milton lança sua Aeropagítica. É, contudo, no bojo das democracias construídas pela Revolução Norte-Americana (1776) e pela Revolução Francesa (1789) que a liberdade de imprensa ganha legitimidade política, ensejando modelos que se reproduziriam em várias partes do mundo.
Não demorou a se configurar o período em que os jornais se tornariam tribunas partidárias ou porta-vozes de correntes políticas. Mas na medida em que a sociedade adquire maior o jornalismo deixa de gravitar exclusivamente em torno da órbita política, correspondendo a outras demandas sociais.
Foi inevitável a conversão da política em rubrica ou editoria dos jornais e periódicos.
A emergência do jornalismo político como categoria espacial demarcado na morfologia dos jornais/revistas (impressos ou eletrônicos), ensejando rotinas produtivas específicas, não
constitui fenômeno generalizado no atlas do jornalismo contemporâneo. Sua intensidade é maior em sociedades onde a democracia representativa ainda está em fase de sedimentação; nas democracias consolidadas ela é residual ou nula.
Kayser (Kayser, 1962) descreve a morfologia do “diário francês” de modo a sugerir que a
política perpassa toda a agenda jornalística, estruturada segundo critérios geopolíticos.
Na medida em que a sociedade adquire maior complexidade, o jornalismo deixa de gravitar
exclusivamente em torno da órbita política, correspondendo a outras demandas sociais.
O panorama é outro quando enveredamos pela bibliografia espanhola ou brasileira, cujas democracias são recentes e cujos jornalismos segmentam e dão tratamento privilegiado à política, entendida como gestão do Estado.
Nabantino Ramos (Ramos 1970, p. 188-189) explica que “a seção de Política registra as atividades desse gênero no âmbito federal, estadual e municipal, acompanhando de perto a marcha dos acontecimentos, a vida partidária, o trabalho dos corpos legislativos e os atos da administração pública que tenham implicações políticas”.
Beltrão faz a demarcação precisa do território, denotando a sua frutífera experiência como repórter parlamentar:
A reportagem política – a que está indissoluvelmente ligada a ação administrativa do poder público – é considerada como um serviço de orientação e informação fundamental para a imprensa, desde que diz respeito aos interesses transcendentais do Estado. Ao contrário dos demais setores, que se dirigem a um público mais ou menos limitado, o da informação político-administrativa interessa tanto aos políticos e homens de governo como às classes produtoras e trabalhadoras, aos profissionais liberais, aos intelectuais e artistas, aos universitários, enfim a todos os homens e mulheres cujo sistema de vida depende, naturalmente, das linhas traçadas pela política do Governo (Beltrão, 1969, p. 293-294).
(Seabra, O jornalismo político brasileiro “nasceu junto com a redemocratização pós-Estado Novo” , informando os leitores dos jornais sobre o cotidiano do Congresso Nacional – “os debates, as votações, os projetos”. A legitimação nacional só ocorreu quando alcançou e incluiu o grande público através das páginas da “maior revista do país, O Cruzeiro, que em meados de 1950 abre suas páginas para as análises políticas de Carlos Castelo Branco, o Castelinho, apontado por todos os jornalistas como o maior repórter político brasileiro de todos os tempos” (Seabra, 2006, p. 128).
Não importa a origem dos personagens envolvidos: se eles são de esquerda ou de direita, militares ou civis, governistas ou oposicionistas... O único compromisso do repórter é com a verdade.
Ao se fazer um balanço do percurso de nosso jornalismo político, avulta o desafio colocado aos profissionais da área: Hoje, a popularização de novos meios eletrônicos de comunicação (especialmente a internet e o telefone celular) vem promovendo novas transformações no jornalismo político. Os blogs e sites de notícias nos fazem lembrar a imprensa brasileira em seus primórdios, quando uma profusão de folhas alimentava o debate político e desancava a segurança dos poderosos (Seabra 2006, p. 130).
No bojo desse ambiente de conturbação surge o impasse com que se defrontam os profissionais da área: “Aderir ao modelo tornou-se tarefa mais arriscada, mas nem por isso afastada. Denunciar o modelo, sim, deve ser uma tarefa permanente. Mas este papel, hoje, não cabe apenas ao jornalismo” (Seabra 2006, p. 130).
A consequência evidente dessa vigilância coletiva a que se lançam as vanguardas politizadas é a de enfraquecer a democracia representativa, gerando descrença, ceticismo, pessimismo,
caldo de cultura adequado para suscitar um ambiente de perigosa anomia1 política.
Não é sem razão que ecoam vozes de perplexidade frente à situação, difundidas pelo contingente de jornalistas políticos que cruzaram a fronteiro do jornalismo e da política, a exemplo da jornalista recentemente nomeada para presidir nossa futura TV Brasil:
Os blogs vieram para ficar, são um espaço alternativo importante e alguns são feitos com grande profissionalismo... (...) Mas quando eles apenas abrigam a estridência e o proselitismo político dos seus patrocinadores, que nem sempre são jornalistas, trazem um desafio para o jornalismo profissional, inclusive o de opinião: o de provar que suas técnicas e seus valores éticos são superiores; (...) A chamada “blogosfera” se apropria de todo o material que foi checado, escrito ou editado, produzido e veiculado, pelo conjunto dos meios de comunicação (com custos para as empresas, inclusive). E a partir dele, produz o que não passa de opinião privada publicada, não raro distorcendo os fatos. E com a internet, esta opinião circula quase de graça.
Que fazer? Resistir? Desistir? Prosseguir? Prefiro a exortação do poeta: Debater é preciso!